domingo, 31 de maio de 2015

Adesão ao tratamento de pacientes hipertensos e diabéticos

A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma doença crônica caracterizada pelo aumento da pressão que o sangue faz para movimentar-se na parede das artérias, diagnosticada quando os valores pressóricos se mantém frequentemente acima de 140 por 90 mmHg.  O diabetes mellitus (DM) é uma doença crônica onde há dificuldade ou inexistência da produção de insulina necessária para o organismo. O efeito do diabetes não controlado é a hiperglicemia.

Essas patologias atingem comumente a população brasileira de forma silenciosa e cerca de 30% da população acometida não sabe que a possui ou não faz o tratamento corretamente por falta de motivação ou recursos, aumentando assim a chance de complicações. A adesão ao tratamento relaciona as ações e comportamentos a respeito do paciente clínico, compreendendo consultas, palestras, grupos de apoio, utilização correta das medicações e prática de exercícios. Essas ações e comportamentos são caracterizados como integrantes do comportamento do paciente em todos os aspectos, agregando todos à sua volta como familiares e amigos e influenciado por sua cultura.

Um dos principais problemas dos profissionais da saúde é a adesão ao tratamento de forma irregular e assistemática, devido ao longo prazo e a dificuldade de alterar sua rotina, para isso os profissionais necessitam da participação e cooperação dos pacientes que convivem com a cronicidade para conseguirem alterar seu estilo de vida. Melhorar a adesão ao tratamento não é fácil, e precisa de uma revisão sistemática de intervenções baseada nos recursos tecnológicos, educativos e comportamentais da população e do serviço de saúde, para serem adaptadas às características e necessidades da população abrangente.

A prevenção e o tratamento da hipertensão arterial sistêmica (HAS) e do diabetes melittus é um processo lento, pois é necessário ensinar a população a cuidar da saúde, enfatizando em campanhas e ações educativas a mudança do estilo de vida, aceitação e adesão ao tratamento, seja ele farmacológico ou não farmacológico. Essas ações podem ser individuais ou coletivas, buscando estratégias que alcancem a realidade da população.

Criado pela Portaria no 371/GM de 4 de março de 2002, o Programa HiperDia tem como objetivo cadastrar no Ministério da Saúde portadores de hipertensão e diabetes, a fim de estabelecer metas e diretrizes para ampliar ações de prevenção, diagnóstico, tratamento e controle dessas doenças promovendo assistência farmacêutica, atividades de educação em saúde individual e coletiva, formando grupos interativos abordando assuntos de importância para o controle clínico e de interesse aos usuários participantes, favorecendo e incentivando a mudança de hábitos de vida. As ações educativas coletivas de grupo de HiperDia são uma grande ferramenta de trabalho para os profissionais, pois aumenta a adesão e eficácia do tratamento e consequentemente a qualidade de vida dos pacientes.

Fonte: ALVES, B. CALIXTO, A. Aspectos determinantes da adesão ao tratamento de hipertensão e diabetes em uma Unidade Básica de Saúde do interior paulista. J Health Sci Inst. 2012;30(3):255-60. 

Por que os pacientes crônicos não aderem ao tratamento?(Parte 1)

A primeira postagem da série "Por que os pacientes crônicos não aderem ao tratamento?"

A não adesão ao tratamento de doenças crônicas é gerada por diversos fatores. Muitas abordagens têm sido propostas para explicar os comportamentos dos pacientes que acabam não aderindo ao tratamento. Os problemas da adesão  verificam-se em todas as situações em que existe autoadministração do tratamento, independentemente do tipo de doença, qualidade e/ou acessibilidade aos recursos da saúde. Afirmar que os doentes são os únicos responsáveis pela não adesão ao tratamento é errôneo, pois existem diversos fatores que influenciam a não adesão. Vamos relatar dois desses fatores nessa postagem.

Fatores sociais, econômicos e culturais.

“Fatores sociais, econômicos e culturais em que se destacam o nível de escolaridade, a situação profissional, os apoios sociais, as condições habitacionais, o preço dos transportes e dos medicamentos, a distância ao local de tratamento e ainda, as guerras, raça, crenças culturais e as desigualdades sociais (Bugalho e Carneiro, 2004; Giorgi, 2006; Machado, 2009). Neste grande grupo de fatores, Machado (2009) inclui ainda os fatores sócio demográficos como a idade, o sexo e o estado civil. Porém segundo a WHO (2003), a idade, sexo, educação, ocupação, rendimentos, estado civil, raça, religião, etnia e vida urbana versus rural não têm sido claramente associadas à adesão.”

Fatores relacionados com os serviços dos profissionais de saúde.

“Fatores relacionados com os serviços e os profissionais de saúde, onde se evidenciam o grau de desenvolvimento dos sistemas de saúde, o sistema de distribuição de medicamentos, a taxa de comparticipação, o acesso aos medicamentos, o grau de educação/esclarecimento dos doentes face aos cuidados de tratamento no domicílio, os recursos humanos e técnicos disponíveis nos serviços, os horários e duração das consultas, os conhecimentos dos profissionais de saúde acerca das doenças 209 Dias, A. M., Cunha, M., Santos, A., Neves, A., Pinto, A., Silva, A, Castro, S. (2011).   Adesão ao regime Terapêutico na Doença Crónica: Revisão da Literatura.   Millenium, 40: 201‐219. Crónicas e a gestão da adesão ao regime terapêutico (Bugalho e Carneiro, 2004; Giorgi, 2006; Oliveira et al., 2007; Machado, 2009). Conclui-se que 28,8% dos indivíduos não seguem a prescrição médica, devido aos custos e falta de conhecimentos (Vasconcelos et al., 2005).”

Fonte: Dias, A. M., Cunha, M., Santos, A., Neves, A., Pinto, A., Silva, A, Castro, S. (2011).   Adesão ao regime Terapêutico na Doença Crónica: Revisão da Literatura.   Millenium, 40: 201‐219.


http://www.ipv.pt/millenium/Millenium40/14.pdf

sábado, 23 de maio de 2015

A importância da adesão em números

A prova que certas práticas que valorizam a adesão ao tratamento tem valor na saúde pública está nos dados divulgados pela OMS. A maior adesão ao tratamento da asma entre idosos acarretou em uma redução anual de 20% nas internações hospitalares entre esse público.
Os benefícios da adesão ao tratamento se estendem aos pacientes, às famílias, aos sistemas de saúde e à economia dos países. O paciente passa a ter a sua condição controlada, podendo, na maioria das vezes, manter uma vida normal e economicamente ativa. A família pode se dedicar a outras atividades e deixar de lado seu papel de cuidadora. O sistema de saúde economiza com a redução de internações emergenciais e intervenções cirúrgicas e a economia ganha com o aumento da produtividade.
Um estudo para avaliar as razões de não-adesão citados pelos pacientes encontrou que 30% dos indivíduos não tomavam a medicação por esquecimento, 16% referiram outras prioridades, 11% optaram por tomar a dose menor do que a prescrita, 9% alegaram falta de informações e 7% fatores emocionais. Esse mesmo estudo mostrou que 27% dos indivíduos avaliados não souberam dar uma razão para a baixa adesão ao tratamento . Em nosso meio, estudo realizado com hipertensos para identificar os fatores que contribuíam para que não tomassem os medicamentos mostrou que, em relação aos medicamentos, 89% dos indivíduos referiram baixa adesão devido ao alto custo, 67% por ter de tomar várias vezes ao dia e 54% devido aos efeitos indesejáveis; em relação à doença, 50% referiram desconhecimento da gravidade e 36% ausência de sintomas; quanto a conhecimentos e crenças, 83% só tomavam o medicamento quando a pressão estava alta, 80% referiram não cuidar da saúde, 75% esqueciam de tomar os medicamentos, 70% desconheciam a cronicidade e as complicações da doença; e quanto à relação médico-paciente, 51% citaram falta de convencimento para tratar a doença e 20% relacionamento inadequado.
A adesão ao tratamento de longo prazo em países desenvolvidos é em torno de 50%. Em países em desenvolvimento as taxas são ainda menores, esses são dados que nos fazem refletir o quão é a importância do atendimento continuado na prática médica e sua repercussão epidemiológica e econômica na saúde pública. 


Fonte: "Adesão ao tratamento – conceitos" de Josiane Lima de Gusmão e Décio Mion Jr, 2006.

domingo, 17 de maio de 2015

Adesão ao tratamento de pacientes aidéticos

Aderir ao tratamento para a aids, significa tomar os remédios prescritos pelo médico nos horários corretos, manter uma boa alimentação, praticar exercícios físicos, comparecer ao serviço de saúde nos dias previstos, entre outros cuidados. Quando o paciente não segue todas as recomendações médicas, o HIV, vírus causador da doença, pode ficar resistente aos medicamentos antirretrovirais. E isso diminui as alternativas de tratamento.
Seguir as recomendações médicas parece simples, mas é uma das grandes dificuldades encontradas pelos pacientes, pois interfere diretamente na sua rotina. O paciente deve estar bem informado sobre o progresso do tratamento, o resultado dos testes, os possíveis efeitos colaterais e o que fazer para amenizá-los. Por isso, é preciso alertar ao médico sobre as dificuldades que possam surgir, além de tirar todas as dúvidas e conversar abertamente com a equipe de saúde.
Para facilitar a adesão aos medicamentos, recomenda-se adequar os horários dos remédios à rotina diária. Geralmente os esquecimentos ocorrem nos finais de semana, férias ou outros períodos fora da rotina. Utilizar tabelas, calendários ou despertador, como do telefone celular, facilita lembrar os horários corretos para tomar os remédios.

Algumas atitudes tomadas dentro de casa facilitam a adesão do soropositivo:
  • Porta-pílula: as caixas porta-pílula servem para organizar as doses diárias ou de um período determinado (uma ou mais semanas). São úteis em casos de viagem e quando se quer manter o sigilo do tratamento.
  • Diário: anotar em um caderno cada dose tomada, ajuda a não esquecer ou pular doses. É muito útil também para controlar o aparecimento de efeitos colaterais e não esquecer as dificuldades e dúvidas em relação aos remédios.
  • Alarmes: evita o esquecimento e ajuda a estabelecer uma rotina para o uso correto dos medicamentos. Despertadores, relógios de pulso e telefones celulares podem  ser programados.


Apoio social

Atualmente, existem organizações governamentais e não governamentais que podem ajudar o soropositivo a enfrentar suas dificuldades e a lidar com situações de estresse por conta da doença. São duas ações de apoio oferecidas: afetivo-emocional e operacional. O afetivo-emocional inclui atividades voltadas para a atenção, companhia e escuta. Já o operacional ajuda em tarefas domésticas ou em aspectos práticos do próprio tratamento, como acompanhar a pessoa em uma consulta, buscar os medicamentos na unidade de saúde, tomar conta dos filhos nos dias de consulta, entre outras. Ambos fazem com que a pessoa se sinta cuidada, pertencendo a uma rede social.
A troca de experiências entre pessoas que já passaram pelas mesmas vivências e dificuldades no tratamento, também conhecido como ação entre pares, também ajuda a promover a adesão, pois possibilita o compartilhamento de dúvidas e soluções e a emergência de dicas e informações importantes para todos.
O suporte social pode ser dado por familiares, amigos, pessoas de grupo religioso ou integrantes de instituições, profissionais de serviços de saúde e pessoas de organizações da sociedade civil (OSC).

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Fatores que influenciam a adesão ao tratamento segundo a OMS

Vários fatores podem influenciar na adesão ao tratamento e podem estar relacionados ao paciente (sexo, idade, etnia, estado civil, escolaridade e nível socioeconômico); à doença (cronicidade, ausência de sintomas e conseqüências tardias); às crenças de saúde, hábitos de vida e culturais (percepção da seriedade do problema, desconhecimento, experiência com a doença no contexto familiar e auto-estima); ao tratamento dentro do qual engloba-se a qualidade de vida (custo, efeitos indesejáveis, esquemas terapêuticos complexos), à instituição (política de saúde, acesso ao serviço de saúde, tempo de espera versus tempo de atendimento); e ao relacionamento com a equipe de saúde
Para a OMS , adesão é um fenômeno multidimensional determinado pela interação de cinco fatores, representado na figura, denominados “dimensões”, no qual os fatores relacionados ao paciente são apenas um determinante. A opinião comum de que os pacientes são unicamente responsáveis por seguir seu tratamento é enganadora e reflete o equívoco mais comum de como outros fatores afetam o comportamento e a capacidade da pessoa aderir a seu tratamento.
A relação médico-paciente deve ser a base de sustentação para o sucesso do tratamento e a participação de vários profissionais da área da saúde, com abordagem multidisciplinar, pode facilitar a adesão ao tratamento e consequentemente aumentar o controle da doença.


O que é adesão ao tratamento? E quais são seus benefícios?

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), adesão ao tratamento “é a medida com que o comportamento de uma pessoa – tomar a sua medicação, seguir a dieta e/ ou mudar seu estilo de vida – corresponde às recomendações de um profissional de saúde”. Apesar da importância de aderir ao tratamento, em muitos casos os pacientes não o fazem. Segundo a OMS, “não há como negar que pacientes têm dificuldade em seguir o tratamento recomendado. A baixa adesão é um problema mundial de magnitude impressionante. A adesão ao tratamento de longo prazo em países desenvolvidos é em torno de 50%. Em países em desenvolvimento as taxas são ainda menores”. Os benefícios da adesão ao tratamento se estendem aos pacientes, às famílias, aos sistemas de saúde e à economia dos países. O paciente passa a ter a sua condição controlada, podendo, na maioria das vezes, manter uma vida normal e economicamente ativa. O sistema de saúde economiza com a redução de internações emergenciais e intervenções cirúrgicas e a economia ganha com o aumento da produtividade.